quinta-feira, 6 de março de 2014

Ano de eleição, o papo deve ser outro


menos reivindicações e críticas,
mais discussão de propostas e soluções,
menos ataques generalizados,
mais esforço para identificar quem merece nossa confiança,
menos manifestações e quebra-quebras,
mais campanhas por aquilo que queremos e por quem nos representa,
menos sentimento de vítima da política,
mais corresponsabilidade pela política,
menos achar que a política é uma porcaria,
mais participar da política e torná-la melhor.

quarta-feira, 5 de março de 2014

A crescente polarização da sociedade brasileira

Defendo muitos resultados do governo do PT nas áreas econômica e social (não se limitando ao bolsa família) e até, em certa medida, meio ambiente. Mas critico a dinâmica de alianças políticas, a forma de construir a coalizão, a aproximação com os ruralistas, a atitude negativa em relação às questões indígenas e das populações tradicionais, e a parada na criação de unidades de conservação no governo Dilma. Para mim, o desequilíbrio reflete uma escalada de conflitos de visões, que atinge de forma perigosa a credibilidade da imprensa e da Justiça. Reflete também a falência da oposição, que não conseguindo emplacar um discurso de ética, de eficiência ou de caminho político, se encolhe, deixando à mídia e às redes sociais um papel que deveria ser seu. Quando o PT era oposição, a ética viva. Com o governo, o pragmatismo impera.    

terça-feira, 4 de março de 2014

A legitimização do ódio social da classe média

A jornalista Raquel Sherazade ficou conhecida por seus comentários raivosos no SBT, que justificavam justiceiros que espancaram, torturaram, despiram e amarram a um poste um adolescente infrator e tratavam com brandura o cantor Justin Bieber. Foi muito criticada pela esquerda ao dizer que a ação dos justiceiros era justificada pela incompetência do Estado. Agora, a liberal Eliane Brum escreveu um belo artigo descrevendo os vários casos de violência gratuita, a partir do episódio do homem esquizofrênico que empurrou uma mulher dentro dos trilhos do metrô. Ligou os vários casos e construiu um argumento de que a raiva que esses casos expressam tem a ver com a situação do país, com a falta de resposta do governo, com as reivindicações não atendidas nas manifestações de junho de 2013. Para mim, um argumento que pode se aproximar, na função (mesmo que não tenha sido a intenção), ao de Sherazade. 

Ora, a revolta da classe média e seus atos gratuitos não pode ser justificada pela ação ou inação do governo. Temos 500 anos de história. Índios massacrados. Negros escravizados. Milhões de favelados. Se a injustiça e a falta de ação do estado são justificativa para ações de ódio, então cuidado com o ódio de índios, negros e pobres. Este ódio ainda não começou a se expressar. 

Imagine você, seu classe média, classe média alta, se o pobre que está no ponto lotado olha para o seu carro e realiza que você é a causa de ele ser pobre, uma situação que ele não causou. Sim, você, eu, os privilegiados que sempre se beneficiaram da distribuição desigual, cujos pais compactuaram com o golpe militar de 1964. Imagine se em vez de ônibus, carros de luxo passassem a ser o alvo. Imagine se as escolas e hospitais particulares passassem a ser atacados para mostrar que à elite e à classe média que seus filhos não podem começar a vida com vantagem sobre outras crianças que merecem tanto ou mais que eles.