terça-feira, 4 de março de 2014

A legitimização do ódio social da classe média

A jornalista Raquel Sherazade ficou conhecida por seus comentários raivosos no SBT, que justificavam justiceiros que espancaram, torturaram, despiram e amarram a um poste um adolescente infrator e tratavam com brandura o cantor Justin Bieber. Foi muito criticada pela esquerda ao dizer que a ação dos justiceiros era justificada pela incompetência do Estado. Agora, a liberal Eliane Brum escreveu um belo artigo descrevendo os vários casos de violência gratuita, a partir do episódio do homem esquizofrênico que empurrou uma mulher dentro dos trilhos do metrô. Ligou os vários casos e construiu um argumento de que a raiva que esses casos expressam tem a ver com a situação do país, com a falta de resposta do governo, com as reivindicações não atendidas nas manifestações de junho de 2013. Para mim, um argumento que pode se aproximar, na função (mesmo que não tenha sido a intenção), ao de Sherazade. 

Ora, a revolta da classe média e seus atos gratuitos não pode ser justificada pela ação ou inação do governo. Temos 500 anos de história. Índios massacrados. Negros escravizados. Milhões de favelados. Se a injustiça e a falta de ação do estado são justificativa para ações de ódio, então cuidado com o ódio de índios, negros e pobres. Este ódio ainda não começou a se expressar. 

Imagine você, seu classe média, classe média alta, se o pobre que está no ponto lotado olha para o seu carro e realiza que você é a causa de ele ser pobre, uma situação que ele não causou. Sim, você, eu, os privilegiados que sempre se beneficiaram da distribuição desigual, cujos pais compactuaram com o golpe militar de 1964. Imagine se em vez de ônibus, carros de luxo passassem a ser o alvo. Imagine se as escolas e hospitais particulares passassem a ser atacados para mostrar que à elite e à classe média que seus filhos não podem começar a vida com vantagem sobre outras crianças que merecem tanto ou mais que eles.    

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