sábado, 29 de junho de 2013

Dilma caiu feio na pesquisa, e outros subiram. O que isso quer dizer?

Ilustração do site Congresso em Foco
Pesquisa do Datafolha mostra queda das intenções de voto em Dilma Rousseff e que os seus potenciais adversários subiram na preferência do eleitor. O que isso quer dizer?

Dilma caiu 21 pontos. Marina cresceu 7. Aécio, 3. Eduardo Campos, 1. Margem de erro de 2%. Somando, os adversários receberam 11 (+ ou - 2) dos 21 pontos que Dilma perdeu. Dá para cantar vitória?

Não. Pelo menos 10 % (+ ou - 2) foram para ninguém. Ou seja, todos enfrentam agora a rejeição aos políticos. O eleitor não quer papo com esses candidatos, seja Dilma, seja seus adversários. Pelo menos, não agora. Interessante é que Campos já vinha subindo lentamente, provavelmente mais um resultado de o eleitor conhecê-lo do que de uma mudança de ideia sobre Dilma. Da mesma forma, Aécio, que deve estar faturando sobre os indecisos, vai se deixando conhecer. Marina, sim, pode ter recebido votos de Dilma: até 7% (+ ou - 2)!

Ou seja, houve migração de eleitores de Dilma para Marina, mas boa parte dos eleitores de Dilma ainda estão por aí sem candidato. Dificilmente irão para Aécio. Poderão voltar para Dilma, ou ir para Marina ou Eduardo Campos. Ou poderão continuar rejeitando os políticos.

É interessante que a intenção de votos para Dilma coincide exatamente com a proporção dos brasileiros que acham que o governo é ótimo/bom. Ou seja, os que acham o governo regular (47%) não estão dizendo ainda que votarão na presidente. Mas a maioria vai, mesmo que neste momento diga que não. Especulando, então, embora a pesquisa aponte 30%, a intenção real de voto em Dilma, se a eleição fosse hoje, seria de pelo menos 40%. Se Campos não se candidatar, uns 45%, sobrando 42% para Marina e Aécio. Então, se a eleição fosse hoje, Dilma ainda ganharia no primeiro turno.

Também é interessante notar que a maior adversária de Dilma é Marina. Marina passa a credibilidade de uma política honesta, que é o que o eleitor deseja. Se partido em formação, ao pedir assinaturas para apoiar o registro, está fazendo campanha política, por tabela, uma vez que Marina é a única figura de expressão. E o que Marina e o Rede Sustentabilidade propõem? Uma agenda de reforma política e a agenda da sustentabilidade.

A agenda da reforma política vai se esvaziar quando a reforma política for concluída. Restará a agenda da sustentabilidade. Então, petistas, eis onde deveria estar seu foco (além da reforma política): sustentabilidade.



sexta-feira, 28 de junho de 2013

O dragão também acordou? A inflação está "de volta"? O poder da mídia sobre nossas percepções.

Você ouve todo dia que a inflação está fora de controle, certo? Que o governo é gastão e que por isso a inflação está voltando. Você também vê o PSDB e o DEM na TV e nos jornais se colocando como os reis do controle da inflação, certo? E a mídia confirmando isso tudo, né?

Viu o comentarista da Globo dizer que o governo nem poderia atender parte das reivindicações das manifestações pelo Brasil, pois isso implicaria em gastos e gastos geram inflação?

Será que não foi só o Brasil que acordou? Será que o dragão também? A inflação está de volta? 

Até eu já estava acreditando... mas aí, pesquisei um pouquinho, e veja o que descobri: mesmo que a inflação fique mais alta, em torno dos 6%, será ainda menor que a média da época de FHC, quando chegou a 12%! Na era Lula, foi caindo, até 3% e depois ficar oscilando entre 4,3% e 5,9%. Veja o gráfico abaixo e diga, em qual período a inflação esteve controlada?

Fonte da ilustração: http://hcinvestimentos.com/2011/02/21/ipca-igpm-inflacao-historica/
Fonte dos dados: IBGE
No período FHC, a inflação variava muito, mas geralmente estava bem acima de 5 ou 6%: 22% em 1995 (vamos dar um desconto, pois era o primeiro ano do Plano Real), mas quase 10% em 1996, 9% em 1999, 7,6% em 2001 e, pasmem!, 12,5% em 2002 (último ano do mandato, com juros nas alturas, lembra?). 

Nos governos Lula e Dilma, a inflação foi caindo, com 9,3% no primeiro ano (dê um desconto aí, pois estava-se tentando controlar o dragão que acordou no governo anterior), baixando para 7,6%, 5,7%, 3,1%, e depois retomando um pouco, e variando desde então entre 4,3% e 6%. Agora, a inflação anda resistindo nos 6%. Onde está o descontrole? Ah, você vai ver: os especuladores perderam o controle da taxa de juros: 


Fonte da ilustração: Blog Valores Reais

O que se vê na figura acima? Que a inflação foi controlada na marra no governo FHC, com juros muito altos, e que a partir dos governos Lula e Dilma os juros foram caindo, e que são menos da metade dos juros praticados em bons anos de inflação no governo FHC. Então, não somente a inflação está controlada, mas os juros também! 

Claro que temos que reconhecer o papel do FHC no governo Itamar e em seu próprio no controle da inflação herdada dos anos anteriores. Mas é uma questão de justiça reconhecer que o PT vem sendo não só um bom guardião deste legado, mas que o tem aprimorado significativamente.

Por exemplo, veja que FHC inventou o regime de metas da inflação em 1999, mas em 4 anos em que o regime vigorou em seu governo, só conseguiu ficar dentro da meta em dois anos. Já o PT, em 10 anos de governo, só esteve fora da meta no primeiro ano: 

Fonte da ilustração: http://hcinvestimentos.com/2011/02/21/ipca-igpm-inflacao-historica/
Fonte dos dados: Banco Central
Então, quem são os reis do controle da inflação? Quem sabe domar esse dragão no dia-a-dia (sem ter que queimar o reino com altas taxas de juros)? 

É impressionante que a mídia fique repetindo mentiras com a esperança de que se tornarão verdade. Na verdade, é revoltante! Temos direito à informação imparcial, equilibrada. Esse direito é ameaçado quando grandes veículos entram em uníssono repetindo versões parciais e dando mais valor a versões que aos fatos., e induzindo os pequenos veículos a reproduzir as mesmas versões.

Também é impressionante que o governo não saiba explicar bem fatos tão simples, e fique vítima dessas versões tão facilmente desmontáveis! Sua comunicação precisa melhorar muito!
  

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Governo quer plebiscito e oposição quer referendum. Por quê?

Governo quer plebiscito e oposição quer referendum. Oposição diz que governo busca tirar o foco das reivindicações das manifestações. Como assim? Uma das reivindicações é a Reforma Política! Dizem que é golpe. Como assim? É uma reivindicação do povo! Dizem que é complexo demais para perguntar ao povo. Como assim? Então o povo é burro? Dizem que as questões são complexas e são tantas que nem sabem dizer quais são. Como assim? Com 7 a 10 questões, definidas há décadas, se resolve. Dizem que é preciso ouvir as ruas. Como assim? Por que são contra então ouvir as ruas e fazer a reforma?

O interesse do governo, obviamente, é retirar a pressão das ruas de suas costas. Mas não é só isso. Na busca de se dar bem no atual sistema político, o PT tem se desfigurado e tem sua legitimidade muito ameaçada. A reforma política é essencial para a sobrevivência e resgate do PT.

O governo se arrisca, porém. E se o povo responder que não quer reeleição? Quem será o candidato do PT? Lula, novamente?

Mas e a oposição? O que tem a perder com o plebiscito e a reforma? Querem um PT enfraquecido, a possibilidade de poder reeleger governadores e prefeitos, e impedir que Dilma seja a líder que, como presidente, deveria ser. Se o plebiscito emplaca, perdem tudo isso.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mudar no grito e no voto

Aos que querem que tudo mude no grito (e têm todo o direito e motivo para gritar), lembrem-se que ano que vem tem eleições, onde tudo pode mudar no voto. Infelizmente, ainda não há democracia pelo Facebook, sem políticos, então, ano que vem é quando a insatisfação expressa neste ano realmente pode mudar o Brasil, não só fazendo os que estão lá ouvir "a voz das ruas", mas trocando os que estão lá.
Será ridículo se, após tanto protesto, os mesmos políticos forem reeleitos para deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente. Embora possa parecer que muda-se tudo trocando-se a presidente por um demagogo moralista qualquer, a presidente é refém de um congresso muito ruim. O governo tem jogado o jogo que está colocado tanto pelo sistema quanto pelas peças que o povo colocou lá no congresso. Não é que não possa fazer nada melhor, mas ajudaria muito ter um Congresso diferente.
Não haverá governo democrático melhor sem um congresso melhor. Não haverá congresso melhor sem outros políticos lá. Não haverá outros políticos lá sem outras pessoas nos partidos (e outros partidos). É assim que funciona. Então, se você foi pra rua, se envolva com um partido, e trabalhe para eleger um político novo, melhor, e mude o congresso e as assembleias legislativas em 2014!

Manifestações grandiosas com demandas medíocres

Demandas medíocres
As manifestações que estão ocorrendo são grandiosas, mas as demandas recentemente divulgadas por um vídeo e na ilustração ao lado são pequenas, medíocres, e incapazes de gerar resultado significativo. Eu me pergunto se foram mesmo elaboradas pelo MPL ou se já representam uma tentativa de cooptação.

Embora sejam justas, o alcance das "5 causas" mudará pouco a vida das pessoas:
  • A PEC 37 é ruim, mas não impedirá o MP de investigar crimes por meio da polícia. 
  • Renan na presidência do Senado é uma vergonha, mas a acusação de corrupção contra ele é um caso pequeno comparado com outros escândalos, inclusive com as acusações contra o presidente anterior, José Sarney, contra quem poucos se manifestavam. 
  • As irregularidades da Copa serão investigadas pelos órgãos competentes, que têm funcionado e devem funcionar de acordo com a lei (talvez a lei precise ser mudada). 
  • Corrupção ser crime hediondo parece bom, mas pode também assustar muitos funcionários públicos, fazê-los ter medo de decidir e tornar tudo muito burocrático e lento. 
  • Fim do foro privilegiado parece bom, mas vimos no mensalão que este foro não é tão privilegiado assim, e que as condenações foram mais rápidas em uma instância só. 
A proposição dessas demandas revela que quem as propôs teve pouco tempo para refletir sobre seus próprios objetivos, ou que seus objetivos são só ligados ao controle da corrupção, o que é pouco comparado com a agenda específica da "passe livre". 

5 causas que valem as manifestações pelo Brasil

Quais deveriam ser as demandas? Posso sugerir 5 demandas mais importantes e que trarão impactos positivos reais na vida das pessoas:
  • Transporte público de qualidade (deveria continuar, já que foi o estopim).
  • Reforma política: que acabe com esse regime de democracia de coalizão e reduza a influência do poder econômico nas eleições.
  • Reforma tributária com sustentabilidade: que dê racionalidade à arrecadação e ao uso dos impostos. 
  • Dobrar o investimento em educação, com elevação dos salários dos professores, destinando 100% dos royalties do pré-sal à educação. 
  • Respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente, com continuidade das demarcações das terras indígenas, a retomada da criação de unidades de conservação, e a saída de Marcos Feliciano da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Democracia: muito mais que vinte centavos

Hoje haverá mobilização nacional em apoio ao movimento passe livre e uma porção de outras agendas. Mais de uma centena de eventos, em mais de cem cidades do Brasil e do exterior, estão sendo marcados pelo Facebook. Se a polícia reprimir, como fez em São Paulo na última quinta, só vai aumentar.

Tudo indica que a polícia ainda não aprendeu sua lição, embora o governo de São Paulo esteja dizendo que não vai mandar a Tropa de Choque às manifestações de hoje e que os policiais estão proibidos de usar balas de borracha. A forma como os manifestantes continuam sendo tratados nas manifestações no Rio e em Brasília, onde bombas de gás foram usadas sobre manifestantes pacíficos (de acordo com a imprensa) e atingindo irresponsavelmente cidadãos que não estavam se manifestando e estavam apenas passando e usando os equipamentos públicos, é clara evidência disso.

Mesmo o mea-culpa de São Paulo não esconde que as polícias militares, e governos que as comandam, ainda vivem no tempo da ditadura. Sem direito à manifestação de rua, nossa democracia é uma farsa. Liberdade de se expressar eletronicamente (às vezes até isso vem sendo suspenso por juízes) não é o suficiente. A manifestação de rua é um instrumento necessário para que a insatisfação do povo seja sentida, medida, e a ela os governantes possam saber ouvir. Entretanto, quando os governantes mostram que não sabem ouvir, como no caso dos vinte centavos de São Paulo, e tratam com repressão um instrumento fundamental da democracia, ofendem e aterrorizam a todos os que prezam os valores democráticos.

Hoje, haverá manifestações por todo o Brasil e elas não terão como motivo vinte centavos nem nenhuma outra agenda prática de insatisfação. Seu motivo será a democracia. Será um teste para os governos e é bom tenham feito seu dever de casa e que saibam passar por ele, ou terão um problema muito maior na próxima manifestação. Se souberem acolher os manifestantes, o Brasil sairá grande, e as manifestações tenderam a acalmar-se. Se reprimirem, os governos sairão pequenos, a hipocrisia ficará evidente, e o fogo que as PMs vêm ateando na população só vai aumentar.

Muitos nasceram na fantasia de democracia que vivemos ou se acostumaram demais com ela para deixá-la se desfazer assim. Os manifestantes estão muito bem organizados, sabem fazer movimento em rede, sabem orientar quem quiser participar. Está nas mãos dos governos se esse movimento vai parar por aí, ou se vai crescer a ponto de derrubar, primeiro secretários de segurança pública, depois, o potencial de reeleição de prefeitos e governadores, por fim, de detonar o favoritismo de Dilma (detonando junto o PT e o PSDB). E tem gente torcendo para que metam os pés pelas mãos mesmo...