segunda-feira, 19 de maio de 2014

Por que não Copa do Mundo?

Eu não gosto de Copa do Mundo. Sempre que tem, não assisto. Acho ridículo esse negócio de achar que patriotismo tem a ver com futebol ou fórmula 1. Por isso, não cabe na minha cabeça o culto ao Sena, a adoração aos jogadores de futebol, o tempo dedicado ao esporte nos telejornais, etc.

Acho um mistério antropológico alguém torcer por um time qualquer. Pela seleção, entendo um pouco, mas tenho um problema. Eu gosto de torcer pelo mais fraco, pelo mais humilde. Por exemplo, na fórmula 1, em vez do Sena, eu gostava de torcer pelo Rubinho. Como o Brasil é sempre considerado forte e como seus torcedores estão sempre insatisfeitos com segundos lugares, não dá para simpatizar com essa turma. Torço pelo Brasil nas coisas em que ele é ruim. Ciência, por exemplo. Quando tem um cientista brasileiro de destaque, fico cheio de orgulho.

Para mim, esse negócio de Copa sempre foi uma estratégia da imprensa e dos governos de direita para nos dominar. Pão e circo. E os palhaços éramos nós.

Mas então veio o Lula, que propôs e conseguiu trazer para o Brasil a Copa do Mundo. Então era um governo de esquerda trazendo a Copa. Eu não gostei. Mas todo mundo gostou. Foi algo festejado, prestigiado por governadores de todos os partidos. O evento traria negócios, provocaria crescimento, nova infraestrutura seria construída.

Eu não gostei mesmo assim. Alguém teria que me mostrar os números, por favor. Achei ridículo construir uma infraestrutura para um evento esportivo. Ao contrário de muita gente, até entendi investir em estádios, pois os nossos eram tão velhos e acabados que dava para entender que era preciso atualizar isso, pelo menos neste intrigante país do futebol.

Mas as cidades disputaram não só os estádios, mas todas as obras de infraestrutura que vinham com eles. E todo mundo quis. Mas eu não.

Agora, porém, estou surpreso. A turma da direita é contra a Copa. Adora futebol, mas não quer Copa. Hum... antropologicamente interessante. É mais ou menos como se a elite da antiga Roma, que sempre bebeu sangue no Coliseu, não quisesse mais ver os gladiadores se matando, nem os cristãos serem comidos pelos leões. Não mudariam de gosto. Não seriam menos sanguinários, nem menos elite. Só não gostariam do imperador. Em casa, continuariam com seus escravos...

Isso só confirma o caráter político que o esporte sempre teve. Não é uma coisa de 2014. O esporte no Brasil, especialmente o futebol, sempre foi uma manifestação política, de celebração do status quo, da direita. Agora, porém, que a esquerda pegou para si essa "ferramenta de dominação", resistir e criticar virou coisa da direita. A direita virou esquerda.

Eu, que era contra, porém, agora sou pragmático. O investimento nos estádios foi realizado: recursos do BNDES foram emprestados para governos locais e times de futebol, e serão pagos. Boa parte da infraestrutura foi construída com recursos do governo federal, e ficará para o futuro. Não é a melhor forma de planejar infraestrutura, mas já foi feito, e com o apoio geral. A economia será movimentada, gerando milhares de empregos, e parte ou todo esse investimento será recuperado.

Poderia ser melhor? Sim. Para começar, poderia não ter sido decidido fazer a Copa aqui. Mas foi. Então, as obras poderiam ter sido realizadas com eficiência e pontualidade. Não foram, mas boa parte vai estar aí. Não há nada a fazer sobre isso.

Mas pode ser melhor, ainda? Pode! Podemos fazer um bela Copa, faturar ao máximo sobre o investimento que foi feito, ajudar a amenizar os problemas que não foram solucionados, deixar a melhor impressão possível nos turistas e torcedores, enfim, agir juntos, como patriotas.

Patriotismo não é ser contra a Copa. Não agora que a decisão e o investimento foram feitos. Patriotismo não é torcer pela seleção brasileira. Nunca foi. Patriotismo é entender as dificuldades de seu país, saber que você é parte delas, perceber as vantagens de seu país, saber que você é parte delas, e ajudar o País a se sair bem. Não importa se você vota na Dilma, no Aécio ou no Eduardo. A Copa não é do PT. A Copa é do Brasil.    

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