Esse negócio de misturar todos os temas nas manifestações parece ser bom só para quem quer atingir eleitoralmente o governo do PT. Hoje os indígenas pareceram, na mídia, estar manifestando contra a Copa. Onde ficou a agenda das demarcações? da violência contra os índios? Sumiu. A mídia sequestrou o movimento, que deixou de ser pró-índio para ser anti-Copa (anti-PT). Como Aécio é o principal candidato anti-PT, ficou como beneficiário principal. Se tivessem ficado na frente do Congresso e do Palácio do Planalto, sua pauta ficaria bem marcada. Resolveram subir pro estádio, misturou tudo, a polícia tentou impedir com violência, rolou flechada em policial, sumiço da pauta, perda legitimidade perante o público leigo. Provavelmente não era a intenção do movimento indígena...
No ano passado, os índios invadiram a Câmara sem quebrar nada, sem deixar-se confundir com "baderneiros", e colocaram sua pauta efetivamente.
Acho que as manifestações seriam mais eficazes, quando os movimentos têm poder de mobilização e pautas bem definidas (como o indígena), se fossem mais específicas e não se deixassem misturar com manifestantes que têm agendas puramente eleitorais.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
O efeito das manifestações anti-Copa
Hum, deixe-me ver, o cara comprou o ingresso para si e para a família, mas vê estas cenas (ver link), que mostram, no recorte, um Brasil que parece retratado pela série dos Simpsons, cheio de estereótipos, com indígenas e flechadas na rua, policiais truculentos, etc. Aí a família dele diz para eles não viajarem. A filhinha diz: papai, estou com medo. Ele não viaja, cancela a reserva no hotel, não gasta no taxi no Brasil, não come nos restaurantes, não visita museus e parques, não compra nas lojas. Seu dinheiro fica lá, no seu país. Mas não é só isso, como ele não conheceu o país, não recomenda, não tem vontade de visitar no futuro, e as despesas que ele deveria ter aqui, ele não faz.
Mas uma outra família vem. Uns reclamam das obras inacabadas da Copa, mas a maioria dos aeroportos estão prontos. A família chega aqui, na terra do futebol, e não vê entusiasmo nenhum. Ela segue pelas ruas, e parece que estamos num país que não liga para a Copa, parece os EUA. Ligam a TV no hotel e vêem as manifestações. Eles não saem, comem no quarto, gasta seu dinheiro ali mesmo. Nada de museus, parques ou compras. Não conhece o Brasil. Então, indo ao jogo com sua família, ele enfrenta com sua família as obras que não acabaram para usar o transporte público. Tudo bem. Torcedor supera. Mas aí, chegam no estádio, uma manifestação ocorre ali perto, uma guerra se levanta. Seu filho chora assustado. Gás lacrimogênio irritam seus olhos. Muito medo de tudo. Assistem o jogo. Na saída, a confusão continua. Voltam para o hotel. Resolvem nunca mais voltar ao Brasil. Recomendam contra o Brasil para seus amigos, e em vez de se ganhar visitas futuras, se perderá.
Assim como estes turistas, serão milhares. Milhões de dólares deixarão de ser arrecadados por causa do medo das manifestações. Os impostos deixarão de ser arrecadados pelos estados, que vão retirar dinheiro de outras áreas para quitar os empréstimos com o BNDES. Os negociantes que não faturarem demitirão e deixarão de pagar seus credores em dia. O que não acumularem neste período, não será utilizado para movimentar a economia. O que parecia um bom negócio (a Copa) deixa de ser.
E é isso que os manifestantes e os anti-Copa chamam de patriotismo...
E os índios... por que eles protestavam mesmo? Contra a Copa? Ah, não, era sobre demarcação de terras e violência contra indígenas. Mas quem se importa? O importante é que #nãovaiterCopa
terça-feira, 27 de maio de 2014
Por que não vemos retorno nos impostos?
"A carga tributária do Brasil é de primeiro mundo com serviços de terceiro mundo". É isso que ouvimos direto de quem é mais ou menos equilibrado em relação a essa questão. Os mais neoliberais simplesmente dizem que tem imposto demais. Mas boa parte das pessoas ficaria feliz se tivesse serviços públicos melhores. Afinal, pagamos tão caro para isso!
Quando pensamos que pagamos caro, pensamos logo no governo federal, na Dilma, no Lula, no FHC. Veja no gráfico a seguir como isso evoluiu de 1990 a 2009:
Vemos que a carga tributária vem crescendo desde os anos 1990, e associamos isso ao desperdício, à corrupção, ao inchaço da máquina do governo. Mas talvez não seja só isso: desde a constituição de 1988, uma série de novos direitos foram reconhecidos e vários serviços foram universalizados. Por exemplo, trabalhadores rurais foram incorporados à Previdência Social, aposentando-se mesmo sem ter contribuído para a previdência. Os brasileiros passaram a ser atendidos pelo SUS, de forma universal, mesmo aqueles que não contribuíram para a previdência (isso passou a ser garantido somente em 1988). A educação foi estendida a praticamente toda a população em idade escolar, quando antes não era universalizada.
"Mas esses serviços são uma porcaria!" vão dizer. Não justificam a carga de impostos. É verdade, os serviços não são bons ainda. Mas é neles que se gastam nossos impostos?
Um infográfico produzido pela Folha revela onde são gastos os nossos impostos. Na esfera federal, de R$ 1,3 trilhão gastos pelo governo, somente 4,3% vão para a educação e 6,8% vão para a saúde. Todos os demais ministérios juntos chegam a 20%. Todos os programas sociais juntos chegam a 4,8%. Mais de 35% vão para a previdência (de forma desproporcional para ex-funcionários públicos e contemplando a previdência rural) e são resultado de decisões passadas e direitos adquiridos. Se aposentados já reclamam hoje, imagine se mexessem mais ainda neste vespeiro? (mas parece inevitável). Outra parcela significativa, quase tão grande quanto saúde, educação e assistência social (incluindo bolsa família) juntos, é a dívida pública: 13%. Outros 16% são repassados obrigatoriamente aos estados e municípios.
Dê uma olhada no infográfico (clique aqui) para ver que é nos estados e municípios que está a maior parte dos impostos que deveriam dar qualidade à saúde, educação e transporte.
Aí é que está o nó. Se depender do governo federal (seja ele de quem for), nunca teremos serviços proporcionais ao que pagamos de impostos, pois boa parte dos nossos impostos sustentam direitos adquiridos por aposentados, pensionistas e credores. Podemos certamente melhorar a qualidade, mas sempre haverá uma lacuna, proporcional à dívida que temos com os compromissos assumidos, com nosso aval, na constituição e nos governos desde então.
Já os governos estaduais e municipais têm mais chance de fazer a mudança, pois estão menos amarrados e têm mais domínio (proporcionalmente) sobre seu orçamento.
Estamos no Brasil e não vai nevar no Natal

PS: Vale a pena assistir a entrevista, em que o Juiz declara que "A justiça é dura com pobres e mansa com ricos" e defende a descriminalização da maconha.
Crédito da imagem: http://viagemmundo.com.br/nao-stress-dicas-de-viagem-de-natal/
quarta-feira, 21 de maio de 2014
País rico é país sem pobreza...
Estava pensando no ótimo slogan do governo Dilma: País rico é país sem pobreza. Refletia uma impressão, no início do governo, de que o Brasil não era mais um país pobre. Mas a sexta economia do mundo era um país rico? Refletindo a característica mais técnica da presidente, o governo assumiu esse slogan, bem diferente do anterior ("País de todos").
O slogan técnico, porém, está incompleto.
É preciso qualificá-lo. Que tal assim?
Ou assim?
Ou assim?
Ou ainda, assim?
Um foco de políticas públicas exclusivo em resultado econômico, seja ele no PIB ou na distribuição de riquezas, é incompleto e leva a distorções e pode ameaçar até mesmo esses resultados econômicos no futuro.
Se o governo qualificasse essa "pobreza" que pretende acabar, teria foco e resultado mais equilibrados e sustentáveis.
O slogan técnico, porém, está incompleto.
É preciso qualificá-lo. Que tal assim?
Ou assim?
Ou assim?
Ou ainda, assim?
Um foco de políticas públicas exclusivo em resultado econômico, seja ele no PIB ou na distribuição de riquezas, é incompleto e leva a distorções e pode ameaçar até mesmo esses resultados econômicos no futuro.
Se o governo qualificasse essa "pobreza" que pretende acabar, teria foco e resultado mais equilibrados e sustentáveis.
terça-feira, 20 de maio de 2014
Como deixar a TV revolta falando sozinha
Tem muita gente incomodada com a TV Revolta, uma página do Facebook que dissemina algumas mensagens neutras juntamente com mensagens ultra-conservadoras e mensagens contra o governo.
Se os posts de seus amigos contendo as imagens da TV Revolta incomodam, a solução é simples: clique no canto direito do post, selecione "Ocultar tudo de TV Revolta". Pronto!
Se quiser, pode também dizer ao Facebook porque você fez isso.
Se os posts de seus amigos contendo as imagens da TV Revolta incomodam, a solução é simples: clique no canto direito do post, selecione "Ocultar tudo de TV Revolta". Pronto!
Se quiser, pode também dizer ao Facebook porque você fez isso.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Por que não Copa do Mundo?
Eu não gosto de Copa do Mundo. Sempre que tem, não assisto. Acho ridículo esse negócio de achar que patriotismo tem a ver com futebol ou fórmula 1. Por isso, não cabe na minha cabeça o culto ao Sena, a adoração aos jogadores de futebol, o tempo dedicado ao esporte nos telejornais, etc.
Acho um mistério antropológico alguém torcer por um time qualquer. Pela seleção, entendo um pouco, mas tenho um problema. Eu gosto de torcer pelo mais fraco, pelo mais humilde. Por exemplo, na fórmula 1, em vez do Sena, eu gostava de torcer pelo Rubinho. Como o Brasil é sempre considerado forte e como seus torcedores estão sempre insatisfeitos com segundos lugares, não dá para simpatizar com essa turma. Torço pelo Brasil nas coisas em que ele é ruim. Ciência, por exemplo. Quando tem um cientista brasileiro de destaque, fico cheio de orgulho.
Para mim, esse negócio de Copa sempre foi uma estratégia da imprensa e dos governos de direita para nos dominar. Pão e circo. E os palhaços éramos nós.
Mas então veio o Lula, que propôs e conseguiu trazer para o Brasil a Copa do Mundo. Então era um governo de esquerda trazendo a Copa. Eu não gostei. Mas todo mundo gostou. Foi algo festejado, prestigiado por governadores de todos os partidos. O evento traria negócios, provocaria crescimento, nova infraestrutura seria construída.
Eu não gostei mesmo assim. Alguém teria que me mostrar os números, por favor. Achei ridículo construir uma infraestrutura para um evento esportivo. Ao contrário de muita gente, até entendi investir em estádios, pois os nossos eram tão velhos e acabados que dava para entender que era preciso atualizar isso, pelo menos neste intrigante país do futebol.
Mas as cidades disputaram não só os estádios, mas todas as obras de infraestrutura que vinham com eles. E todo mundo quis. Mas eu não.
Agora, porém, estou surpreso. A turma da direita é contra a Copa. Adora futebol, mas não quer Copa. Hum... antropologicamente interessante. É mais ou menos como se a elite da antiga Roma, que sempre bebeu sangue no Coliseu, não quisesse mais ver os gladiadores se matando, nem os cristãos serem comidos pelos leões. Não mudariam de gosto. Não seriam menos sanguinários, nem menos elite. Só não gostariam do imperador. Em casa, continuariam com seus escravos...
Isso só confirma o caráter político que o esporte sempre teve. Não é uma coisa de 2014. O esporte no Brasil, especialmente o futebol, sempre foi uma manifestação política, de celebração do status quo, da direita. Agora, porém, que a esquerda pegou para si essa "ferramenta de dominação", resistir e criticar virou coisa da direita. A direita virou esquerda.
Eu, que era contra, porém, agora sou pragmático. O investimento nos estádios foi realizado: recursos do BNDES foram emprestados para governos locais e times de futebol, e serão pagos. Boa parte da infraestrutura foi construída com recursos do governo federal, e ficará para o futuro. Não é a melhor forma de planejar infraestrutura, mas já foi feito, e com o apoio geral. A economia será movimentada, gerando milhares de empregos, e parte ou todo esse investimento será recuperado.
Poderia ser melhor? Sim. Para começar, poderia não ter sido decidido fazer a Copa aqui. Mas foi. Então, as obras poderiam ter sido realizadas com eficiência e pontualidade. Não foram, mas boa parte vai estar aí. Não há nada a fazer sobre isso.
Mas pode ser melhor, ainda? Pode! Podemos fazer um bela Copa, faturar ao máximo sobre o investimento que foi feito, ajudar a amenizar os problemas que não foram solucionados, deixar a melhor impressão possível nos turistas e torcedores, enfim, agir juntos, como patriotas.
Patriotismo não é ser contra a Copa. Não agora que a decisão e o investimento foram feitos. Patriotismo não é torcer pela seleção brasileira. Nunca foi. Patriotismo é entender as dificuldades de seu país, saber que você é parte delas, perceber as vantagens de seu país, saber que você é parte delas, e ajudar o País a se sair bem. Não importa se você vota na Dilma, no Aécio ou no Eduardo. A Copa não é do PT. A Copa é do Brasil.
Acho um mistério antropológico alguém torcer por um time qualquer. Pela seleção, entendo um pouco, mas tenho um problema. Eu gosto de torcer pelo mais fraco, pelo mais humilde. Por exemplo, na fórmula 1, em vez do Sena, eu gostava de torcer pelo Rubinho. Como o Brasil é sempre considerado forte e como seus torcedores estão sempre insatisfeitos com segundos lugares, não dá para simpatizar com essa turma. Torço pelo Brasil nas coisas em que ele é ruim. Ciência, por exemplo. Quando tem um cientista brasileiro de destaque, fico cheio de orgulho.
Para mim, esse negócio de Copa sempre foi uma estratégia da imprensa e dos governos de direita para nos dominar. Pão e circo. E os palhaços éramos nós.
Mas então veio o Lula, que propôs e conseguiu trazer para o Brasil a Copa do Mundo. Então era um governo de esquerda trazendo a Copa. Eu não gostei. Mas todo mundo gostou. Foi algo festejado, prestigiado por governadores de todos os partidos. O evento traria negócios, provocaria crescimento, nova infraestrutura seria construída.
Eu não gostei mesmo assim. Alguém teria que me mostrar os números, por favor. Achei ridículo construir uma infraestrutura para um evento esportivo. Ao contrário de muita gente, até entendi investir em estádios, pois os nossos eram tão velhos e acabados que dava para entender que era preciso atualizar isso, pelo menos neste intrigante país do futebol.
Mas as cidades disputaram não só os estádios, mas todas as obras de infraestrutura que vinham com eles. E todo mundo quis. Mas eu não.
Agora, porém, estou surpreso. A turma da direita é contra a Copa. Adora futebol, mas não quer Copa. Hum... antropologicamente interessante. É mais ou menos como se a elite da antiga Roma, que sempre bebeu sangue no Coliseu, não quisesse mais ver os gladiadores se matando, nem os cristãos serem comidos pelos leões. Não mudariam de gosto. Não seriam menos sanguinários, nem menos elite. Só não gostariam do imperador. Em casa, continuariam com seus escravos...
Isso só confirma o caráter político que o esporte sempre teve. Não é uma coisa de 2014. O esporte no Brasil, especialmente o futebol, sempre foi uma manifestação política, de celebração do status quo, da direita. Agora, porém, que a esquerda pegou para si essa "ferramenta de dominação", resistir e criticar virou coisa da direita. A direita virou esquerda.
Eu, que era contra, porém, agora sou pragmático. O investimento nos estádios foi realizado: recursos do BNDES foram emprestados para governos locais e times de futebol, e serão pagos. Boa parte da infraestrutura foi construída com recursos do governo federal, e ficará para o futuro. Não é a melhor forma de planejar infraestrutura, mas já foi feito, e com o apoio geral. A economia será movimentada, gerando milhares de empregos, e parte ou todo esse investimento será recuperado.
Poderia ser melhor? Sim. Para começar, poderia não ter sido decidido fazer a Copa aqui. Mas foi. Então, as obras poderiam ter sido realizadas com eficiência e pontualidade. Não foram, mas boa parte vai estar aí. Não há nada a fazer sobre isso.
Mas pode ser melhor, ainda? Pode! Podemos fazer um bela Copa, faturar ao máximo sobre o investimento que foi feito, ajudar a amenizar os problemas que não foram solucionados, deixar a melhor impressão possível nos turistas e torcedores, enfim, agir juntos, como patriotas.
Patriotismo não é ser contra a Copa. Não agora que a decisão e o investimento foram feitos. Patriotismo não é torcer pela seleção brasileira. Nunca foi. Patriotismo é entender as dificuldades de seu país, saber que você é parte delas, perceber as vantagens de seu país, saber que você é parte delas, e ajudar o País a se sair bem. Não importa se você vota na Dilma, no Aécio ou no Eduardo. A Copa não é do PT. A Copa é do Brasil.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Há 12 anos, a inflação era o dobro, e o desemprego era quatro vezes maior
2002 era ano eleitoral, a inflação terminou o ano em 12% e o desemprego variava entre 18 e 20%.
2014, também ano eleitoral, a inflação está perto de 6% e o desemprego em 5%
Ou seja, há 12 anos, a inflação era o dobro, e o desemprego era quatro vezes maior.
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