quarta-feira, 22 de julho de 2015

Por que o corte de gastos de Dilma/Levy não funciona: ou porque as vacas não dão leite.

Para ganhar credibilidade entre os empresários, e retomar os investimentos privados na economia, fazendo o Brasil voltar a crescer, Dilma teve que fazer dois grandes "ajustes":
  1. Atualizar os preços e as tarifas administradas, tirando a Petrobras e empresas de energia do prejuízo imposto pelo represamento de aumentos que visava controlar a inflação durante o primeiro mandato. 
  2. Cortar gastos do governo para fazer economia (superavit fiscal) e pagar a dívida pública, recuperando a credibilidade diante de "investidores" (compradores de títulos públicos). 
Para evitar os efeitos colaterais do ajuste nos preços administrados, o Banco Central aumentou os juros. O objetivo disso foi frear o consumo, impedindo os custos adicionais de combustível e energia de serem repassados aos preços. Empresários teriam que se virar para cortar gastos e manter os preços baixos. Então, se a economia não cresce você lamenta, mas o Levy comemora, porque era exatamente isso que ele queria para poder controlar a inflação! 

Veja a situação: você é empresário e não investe mais porque teme que sua lucratividade será corroída por preços mais altos de energia e combustível (além de regras instáveis e incentivos aplicados de forma errática a diferentes setores, de acordo com sua capacidade de lobby). Aí, os preços administrados realmente aumentam, seus temores se confirmam, sua lucratividade vai para o saco, e você precisa escolher: crescer ou lucrar? Sua escolha, considerando a incerteza política só pode ser lucrar. Então, não tem crescimento. Se você pudesse repassar os ajustes aos preços, lucraria e poderia crescer, mas aí haveria inflação, que traz outros problemas... 

Já para cortar os gastos, o governo corta diferentes despesas, adia investimentos, corta benefícios sociais, etc. Porém, como aumentou os juros, gasta mais (é o governo que paga os juros mais altos, junto com você e eu). Mas tem um outro problema: ao cortar gastos, reduz a arrecadação. Como? Olha, isso me lembrou uma fazenda para quem trabalhei uma vez:

Agrônomo recém formado, recebi a incumbência de melhorar a lucratividade de uma fazenda de gado de leite, que dava prejuízo. Perguntando sobre suas práticas, verifiquei que forneciam às vacas apenas um terço da ração recomendada. Eu perguntei o porquê e me explicaram que o proprietário pediu para cortar os gastos. "Bem," eu disse, " se você não der ração para as vacas, elas não vão produzir leite". Então, para acabar com o prejuízo (o déficit fiscal) da fazenda, aumentamos o gasto, alimentando as vacas, que aumentaram em 50% a produção de leite e aumentaram o faturamento da propriedade (a arrecadação).

Então, por que as vacas não davam leite? Porque o administrador cortou os gastos em algo que não deveria ter sido cortado. É o que Dilma/Levy estão fazendo. Por outro lado, estão gastando mais em algo que não deveria ser gasto: os juros. O resultado é esta tragédia que vivemos.

Ah, mas esse sacrifício é necessário para crescermos mais tarde. Sim, talvez. Mas talvez o ajuste fiscal só esteja produzindo o efeito de um "bode na sala": primeiro, o bode incomoda muito, depois, nos acostumamos com ele, depois, tira-se o bode, e fica-se com a impressão de que as coisas estão melhores do que antes de o bode ser colocado na sala. Levy e suas medidas são o bode, o Brasil é a sala, você e eu somos as vacas, e os gastos do governo são a ração.

O que fazer então? Cortar o que for supérfluo, OK, mas não se deve cortar nada que resulte em maior arrecadação do que se gasta. Por exemplo, pesquisa agropecuária, educação, investimentos nos mais pobres, aeroportos de regiões turísticas, etc. Cada gasto do governo deveria ter uma avaliação em termos de seu retorno em arrecadação. Assim como a política de juros deveria ser avaliada dessa mesma forma.

Não matem as vacas de fome!
 





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários agressivos ou caluniosos não serão aprovados